Pesquisa da UFSC mostra que plástico PET intoxica microcrustáceo na base da cadeia alimentar.

13/03/2025 12:18


Estudo foi realizado no Laboratório de Toxicologia Ambiental (Labtox). Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC

Um estudo conduzido no Laboratório de Toxicologia Ambiental (Labtox) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) revelou que o descarte inadequado de garrafas PET pode causar uma série de efeitos tóxicos em um pequeno crustáceo de água doce, a dáfnia. Por meio de testes em laboratório, os pesquisadores mostraram que a degradação do PET na água causa danos em células e mitocôndrias e afeta a reprodução, a alimentação e a locomoção desses animais, que estão na base da cadeia alimentar. Os resultados foram publicados na revista científica internacional Science of The Total Environment e fizeram parte da pesquisa de doutorado de Bianca Vicente Costa Oscar, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental.

“Pela literatura, a gente já sabe que os materiais plásticos, quando são liberados na água, sofrem fragmentação e liberam compostos químicos. Só que até que ponto essa fragmentação, cada vez em pedaços menores, interfere no organismo dos animais? E até que ponto esses compostos que o PET libera interferem também na vida do animal?”, questiona Bianca.

O animal escolhido para os testes foi a dáfnia (mais especificamente a espécie Daphnia magna)um microcrustáceo que pode chegar a cinco milímetros de comprimento. Elas vivem em água doce e se alimentam de partículas finas de matéria orgânica em suspensão, incluindo leveduras, bactérias e microalgas. Por outro lado, servem de alimento a peixes e diversos outros animais aquáticos. Então, qualquer impacto na população de dáfnias pode desequilibrar toda a cadeia alimentar. 

“Por conta dessa importância ecológica, no mundo todo, em qualquer laboratório que trabalha com ecotoxicologia, a dáfnia é utilizada como um excelente modelo ecotoxicológico”, afirma o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental William Gerson Matias, coordenador do Labtox e orientador de Bianca no doutorado.

Microcrustáceo Daphnia magna pode
chegar a cinco milímetros de comprimento.
Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC

Degradação e contaminação

Para simular o que acontece com plásticos PET jogados na água, os cientistas cortaram uma garrafa de refrigerante em vários pedaços, que foram colocados em um recipiente com água e expostos, por 24 horas, a uma lâmpada que simula a radiação solar. Os experimentos, que utilizaram também a estrutura multiusuários da UFSC, principalmente o Laboratório Central de Microscopia Eletrônica (LCME), comprovaram que, quando exposto ao sol, o PET libera uma série de compostos químicos na água, com destaque para o antimônio. Tóxico se ingerido ou inalado, o antimônio é um elemento químico amplamente utilizado nas garrafas PET – além de acelerar o processo de fabricação, ele também funciona como retardador de chamas.

Imagens feitas em microscópio demonstram
fotodegradação do plástico PET. A primeira,
às 0h, mostra a estrutura do plástico antes
de ser degradado. A última mostra como
ficou a estrutura após 24 horas de exposição
à água e à luz

Um grupo de dáfnias foi mantido nessa água, cheia de antimônio e outros compostos liberados pela degradação do PET, por 21 dias. Isso permitiu que os cientistas constatassem uma série de efeitos tóxicos decorrentes da exposição crônica aos subprodutos do plástico.

Entre outros problemas, foram observados rompimento de membranas celulares e danos nas mitocôndrias – responsáveis pela respiração celular –, nos tecidos e nas estruturas responsáveis pela locomoção e pela alimentação. Os pesquisadores também notaram que elas nadavam menos e os batimentos cardíacos ficaram mais fracos, bem como mudanças nos movimentos torácicos, em parâmetros de estresse oxidativo e nos padrões de reprodução.

“Elas geraram uma quantidade muito menor de filhotes, e a primeira ninhada dessas dáfnias foi muito mais cedo. Então, as dáfnias que não estavam expostas a esse líquido da degradação geraram filhotes em 14, 15 dias. As dáfnias que foram expostas geraram em 6, 7 dias. E houve a diminuição da quantidade de filhotes também. Se antes demorava 14 dias, e na primeira ninhada a dáfnia soltava 10, 15 filhotes, ela começou a soltar 1, 2, 3, e muitos nem sobreviviam”, relata Bianca.

Efeitos na geração seguinte

Os cientistas também fizeram testes em filhotes dessas dáfnias. Expostos aos contaminantes durante o período embrionário, ao nascer, eles foram colocados em um recipiente com água limpa, livre das substâncias resultantes da degradação do PET. O objetivo era fazer um teste de recuperação, “para ver se esses organismos conseguiam se recuperar depois de tudo isso que as mães passaram, e que eles passaram também na forma embrionária”, explica a pesquisadora.

Apesar de efeitos tóxicos permanecerem na nova geração, foi possível perceber melhorias em alguns dos parâmetros analisados, o que indica um processo de recuperação. Os filhotes apresentaram melhora considerável na frequência cardíaca e na movimentação dos membros torácicos. Por outro lado, problemas reprodutivos e de locomoção se mantiveram, “demonstrando que os efeitos tóxicos do PET envelhecido atingiram gerações subsequentes de D. magna exposta e ameaçaram a manutenção desta espécie”, informa o resumo elaborado pelos cientistas.

Trajetórias médias de natação das dáfnias das gerações P (mães) e F1 (filhotes). A primeira coluna mostra a movimentação dos animais do grupo-controle. A segunda mostra como a exposição aos subprodutos do PET impactou a distância percorrida pelos animais, afetando inclusive os filhotes

“Na minha opinião, esse é um dos melhores papers [artigos científicos] desenvolvido dentro da nossa equipe. Um paper com resultados importantes, porque aborda um processo de degradação de um elemento tão utilizado pela gente, que é o PET. E esse produto de degradação influencia as vidas que têm contato com ele”, enfatiza o professor William.

Desde sua criação, em 1997, o Labtox desenvolve pesquisas com contaminantes emergentes – aqueles que não têm ainda uma regulação e que não costumam ser monitorados ou eliminados pelos processos tradicionais de tratamento de água. No início, o foco eram as toxinas marinhas que afetam a maricultura, mas os trabalhos foram se diversificando com o tempo.

Em 2010, tiveram início os estudos com nanopartículas metálicas, em cooperação com a Universidade do Quebec em Montreal (UQAM). “Isso nos possibilitou durante muitos anos colaborar com o processo de regulação dessas novas tecnologias”, afirma William.

 

William Gerson Matias é professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e coordenador do Labtox. Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC

Atualmente, o grupo se dedica a estudar a toxicidade de contaminantes diversos, incluindo plásticos, medicamentos, agrotóxicos, protetor solar e drogas ilícitas. Procura entender, também, o que acontece quando esses diferentes contaminantes se misturam – afinal, nenhum deles está sozinho no ambiente. A ideia é que os estudos apoiem iniciativas de regulação e ajudem a estabelecer os limites seguros dessas substâncias.

As atividades devem ganhar força com a criação do Instituto Multidisciplinar de Apoio à Regulação de Contaminantes Emergentes (Imarce). Proposto pelo Labtox e aprovado pela Câmara de Pesquisa da UFSC em 2024, o instituto conta com o apoio da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) e da UQAM.

“Todas essas instituições fazem parte desse contexto para induzir um processo de regulação. Como é realizada a regulação? Ela é realizada com as pesquisas desenvolvidas pelos laboratórios do mundo, e, quando há necessidade, um grupo se reúne e pega o que está publicado para tentar estabelecer os limites confiáveis. O instituto está aqui para catalisar esse processo”, ressalta o professor.

 

Camila Raposo | camila.raposo@ufsc.br
Agência de Comunicação | UFSC

Tags: CTClabtoxLCMEPrograma de Pós-Graduação em Engenharia AmbientalToxicologiaUFSCUniversidade Federal de Santa Catarina

3º Workshop: Soluções baseadas na Natureza (SbN) empregadas na gestão das águas urbanas

06/03/2025 09:49

Data: 11 e 12 de Março de 2025

Horário: 09h00 às 17h30

Inscrições gratuitas e limitadas através do link: Clique aqui

Local: Auditório do Centro de Ciências Biológicas (CCB) |
Andar Térreo – UFSC | R. da Prefeitura Universitária,
Córrego Grande, Florianópolis – SC
Cronograma em PDF (clique aqui)

Dia 1 – 11/03/2025

08:30 – 09:00 Registro dos Presentes
09:00 – 09:30 Abertura
Rodrigo de Almeida Mohedano – ENS/UFSC
Jaime Nivala – INRAE/França (Em Inglês)
Alexandre Bach Trevisan – CASAN-SC
Willian Goetten – ABES-SC
Marcos José de Abreu (Marquito) – Dep. Estadual/SC
09:30 – 10:00 Projeto Multisource – ModULar Tools for Integrating
enhanced natural treatment Solutions in Urban water
CyclEs’
Jaime Nivala – INRAE/FR (Em Inglês)
10:00 – 10:30 INCT-SbN – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia –
Soluções Baseadas na Natureza e atuação do Núcleo UFSC
– Grupos de pesquisa GESAD e RReSSa
David da Motta Marques – INCT-SbN/Brasil
Pablo Heleno Sezerino – GESAD/UFSC
Maria Elisa Magri – RReSSa/UFSC
10:30 – 11:00 Café Interativo – Networking
11:00 – 12:30 Multifuncionalidade e Co benefícios das SbN para gestão
de esgotamento sanitário e águas pluviais no contexto das
mudanças climáticas
Jan Friezen – UFZ/Alemanha (Em Inglês)
Anacleto Rizzo – IRIDRA/Itália (Em Inglês)
Fernando Magalhães –INCT-SbN/Brasil – Núcleo IPH/UFRGS
12:30 – 14:30 Almoço livre
14:30 – 15:30 Fechamento do ciclo urbano da água – Riscos,
Oportunidades e o Papel das SbN
Pedro Carvalho – AU/Dinamarca
Maria Elisa Magri – RReSSa/UFSC
15:30 – 16:00 Café Interativo – Networking
16:00 – 17:15 Apresentação de projetos de SbN para gestão do
esgotamento sanitário e águas pluviais na Europa e no
Brasil
Anacleto Rizzo – IRIDRA/Itália (Em Inglês)
Massimiliano Riva – ICRA/Espanha (Em Inglês)
Alexandre Bach Trevisan – CASAN-SC
17:15 – 17:30 Encaminhamentos e encerramento do dia
Elena Petsani – ICLEI/Alemanha (Em Inglês)
Pablo Sezerino – GESAD/UFSC

Dia 2 – 12/03/2025

08:30 – 09:00 Registro dos Presentes
09:00 – 10:30 Disseminação das SbN e engajamento dos atores brasileiros
Laura Palomar e Elena Petsani – ICLEI/Alemanha (Em Inglês)
Maria Wirth – Alchemia-nova/Áustria (Em Inglês)
Atores brasileiros (stakeholders)
10:30 – 11:00 Café Interativo – Networking
11:00 – 12:30 Workshop: Ferramentas Multisource de disseminação das SbN
– tomada de decisão para seleção de tecnologias e gestão das
águas urbanas
Jan Friezen – UFZ/Alemanha (Em Inglês)
Massimiliano Riva – ICRA/Espanha (Em Inglês)
12:30 – 14:30 Almoço livre
14:30 – 16:00 Cases empresariais em SbN: Concepção, Tecnologias e
Engajamento
Rotária do Brasil – Florianópolis/SC
Wetlands Construídos – Belo Horizonte/MG
Emboa Ecosan – Florianópolis/SC
16:00 – 16:30 Encaminhamentos e encerramento do workshop
Maria Wirth – Alchemia-nova/Áustria (Em Inglês)
Jaime Nivala – INRAE/França (Em Inglês)
Maria Magri – RReSSa/UFSC
Pablo Sezerino – GESAD/UFSC
Este workshop é resultado da parceria estabelecida no projeto de pesquisa
“Sistemas Naturais Aprimorados de Saneamento Aplicados ao Ciclo
Urbano da Água” (financiado pela FAPESC 2021TR750) conduzido pelos
grupos GESAD e RReSSa da UFSC, com o projeto MULTISOURCE “ModULar
Tools for Integrating enhanced natural treatment Solutions in Urban water
CyclEs’”, coordenado pelo INRAE/França (financiado pela União Europeia
no âmbito do Horizonte 2020).

Instituições e Grupos de pesquisa participantes do workshop:
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
GESAD – Grupo de Estudos em Saneamento Descentralizado
RReSSa – Grupo de Pesquisa em Recuperação de Recursos em Sistemas de
Saneamento
INCT-SBN – Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Soluções Baseadas
na Natureza
CASAN – Companhia Catarinense de Águas e Saneamento
ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
ARIS – Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento
INRAE – National Research Institute for Agriculture, Food and Environment
– França
AU – Aahus University – Dinamarca
UFZ – Helmholtz Centre for Environmental Research – Alemanha
ICRA – Catalan Water Research Institute – Espanha
ICLEI – Local Governments for Sustainability – Alemanha
IRIDRA – Engineering and Consultancy – Itália
Alchemia-nova – Research and Innovation Institute – Áustria

 

 

Resultado – Processo Seletivo 2025.1: Bolsas de Mestrado e Doutorado

28/02/2025 18:39

Só será possível saber a quantidade de bolsas disponíveis a partir da semana que vem, em razão do calendário das agências de fomento. Assim que esse número estiver disponível, os bolsistas serão contactados pela Coordenação, de acordo com a ordem de classificação, para reunião das informações e documentação necessária para a implementação das bolsas.

A previsão de recebimento da primeira parcela da bolsa, considerando a previsão de implementação no mês de março e salvo alguma ocorrência excepcional, é abril de 2024.

As bolsas serão distribuídas de acordo com a classificação dos(as) candidatos(as) e a disponibilidade.

Lembrando que a Coordenação entrará em contato com os(as) candidatos(as) aprovados, de acordo com a disponibilidade das bolsas.

MESTRADO

Nome PAA Modalidade – PAA Dedicação exclusiva? Pontuação solicitada Pontuação validada Inscrição Colocação
Grazieli Pereira da Silva Sim PPI Sim 6,5 6,5 Homologada
Igor Vinicius Reynaldo Tibúrcio Não Sim 23 23 Homologada
Felipe Martins Pineroli Não Sim 13,1 13,1 Homologada
Ana Gabriela Bosse Andrade Não Sim 15,5 11 Homologada
Christian Strack Não Sim 8,5 8,5 Homologada
Tamires R. P. C. dos Santos Não Sim 8,5 8,5 Homologada
Muriell Bernardo de Macedo Não Sim 26 8 Homologada
Maria Eduarda Gonçalves Não Sim 9,5 7,5 Homologada
Maria Luíza Q. L. S. C. Costa Não Sim 12,5 7,5 Homologada
Cananda de Souza Damasceno Não Sim 19,4 3,9 Homologada 10º
Lindamara Pereira Marques Sim PPI Não 5 1 Homologada 11º
Júlia Zanette Penso Não Não 22,5 20 Homologada 12º
Henrique Sbecker Leite Não Não 32 14 Homologada 13º
Larissa de Andrade Gonçalves Não Não 14 12 Homologada 14º
Jessica Rodrigues Cardoso Não Não 5,9 5,4 Homologada 15º
Thea Louise Sequeira Pessoa Não Não 21 4 Homologada 16º

DOUTORADO

Nome PAA Modalidade – PAA Dedicação exclusiva? Pontuação solicitada Pontuação validada Inscrição Colocação
Saman Belizario Sim PPI Não 39 39 Homologada
Vinicius Nascimento Sim PPI Não 36 32 Homologada
Gabriela Anzanello Rodrigues Não Sim 52,5 48,5 Homologada
Marília de Medeiros Machado Não Sim 31,5 18,5 Homologada
Abraão da Silva Pereira Não Não 30 30 Homologada
Juliana Francine da Costa Não Não 30,5 28,5 Homologada